terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Entre a terra e o mar


Uma noite. Um lugar incerto.
Os nossos passos levaram-nos lá, onde o mar e a terra se unem e se amam. O céu lá estava, negro estrelado, testemunha desse amor terreno e aquático.
E a lua... Nessa noite não estava cheia, minguava, talvez envergonhada da plácida paixão que se desenrolava debaixo dela.
E estávamos nós.
Olhava-te e adivinhava-te o olhar cinzento pousado no meu cabelo que brilhava à fraca luz da lua. Sentámo-nos em frente ao gigantesco farol, única construção que rompia a harmonia daquela praia, mas que dela fazia parte, como se lá tivesse sempre existido, como o mar, a areia, as rochas, o céu.
Abraçaste-me, como que tentando proteger-me da brisa fria de um Outono que se aproximava... Todos os meus sentidos reagiram ao teu toque, todo o meu corpo te enviava sinais de entrega. Era a primeira vez que estávamos sós...
A primeira vez que pudemos olhar-nos com a mesma intensidade com que o coração batia sempre que nos cruzávamos no elevador, no café, no trabalho...
E pela primeira vez tive a clara noção de que queria ser tua...
E pela primeira vez tive medo de que não me quisesses...
Mas querias!
No escuro entrecortado pela luz do farol, via-te as faíscas de desejo a saltar do olhar... Percebi no teu abraço protector vontade de me tocar mais, vontade de te perderes nas profundezas do meu mar aparentemente calmo mas que, na verdade, se agitava perante a iminência de uma tempestade.
Olhámo-nos. Vimo-nos tão profundamente que nos descobrimos a alma até ao mais profundo, até aos segredos nunca contados, até às memórias mais secretas. Como hipnotizados, beijámo-nos.
O calor... o calor desse beijo não poderei esquecê-lo nunca... O poder dos teus braços fortes a envolver-me... O sabor a desejo, a paixão, a querer, mais, mais... não pares...!
Senti a tua mão fria subir-me o tronco e agarrar-me o seio... arrepiei-me de frio, de prazer quando senti o calor da tua boca envolvê-lo.
E devagar... ao sabor das ondas que iam e vinham, nos amámos, iluminados pela intermitência do farol e pela vergonha da lua...
Gritei. Gritei de prazer quando o teu lume entrou em mim, quando explodimos os dois e esquecemos tempo e lugar.
Sorri... Quando me olhaste e sussurraste

Quero-te tanto...!

e te senti amarrado a mim, preso numa promessa de amor e paixão, selada pelos mistérios do mar...
Enlouqueci... quando ficámos os dois, embrulhados na areia, no mar e no sal, e senti que eras meu... sem ser.


Nunca foste verdadeiramente meu.
Mas nessa noite e nos pedaços de tempo em que nos perdemos, foste meu.
E em sonhos continuas a ser meu.
E no fundo eu sei... quando olho um qualquer mar, um qualquer céu, um qualquer farol... eu sei!

Que ainda me queres.

17 comentários:

Red Light Special disse...

Fiquei emocionada... muito.
No fundo sabemos que "ele" ainda nos quer... pena que nem sempre "ele" o saiba.
Beijos grandes para ti, obrigada por este momento... lindo!

redjan disse...

... um qualquer farol ...

http://redjanpais.blogspot.com/2007/06/farol.html

curioso como se cruzam posts e momentos.... right ???

Heosphoros disse...

Bem, descobrir-te já está, agora só falta explorar-te um pouco mais por este espaço...

Beijos

Anônimo disse...

Adorei...emocionada li as tuas palavras...Ja passei por algo parecido, mas feizmente ele foi a tempo de saber o que queria ;)

Beijinho
Arte de Amar

Anônimo disse...

Olá!
Vou estrear-me aqui! Devo-te dizer que este texto me tocou muito! Está sublime!
Vou continuar a a viajar por este espaço.

Beijinho

P.S. Vou roubar-te a foto, posso?

Pedro disse...

Ninguém é de ninguém!
Nunca somos donos de ninguém!
Só partilhamos momentos e viagens!
Cada um têm e guarda para si o que sente dos momentos e viagens que faz, pode tentar transmitir as sensações mas .....
Gostei do post, deixou-me um pouco entre a terra e....o sonho!

RASTINOV disse...

O mar por vezes é "traiçoeiro" e nem sempre o farol indica o caminho certo! De qualquer forma uma bela viagem.

Sophia disse...

Isto é que é escrever os sentimentos em papel, tê-los à flor da pele e traduzi-los por palavras. Excelente!!! Parabéns!!!

Pedro disse...

É bom sentirmo-nos desejados!
É bom pensar e saber que alguém nos deseja!
É bom estarmos longe e vêr um farol!
É um bom farol, o desejo!
É bom viajar com um farol á vista!

black puss in white boots disse...

Que a leveza dos grãos de areia inundem o teu natal. Que essa praia continue sempre a fazer parte do teu sonho e te inunde os sentidos sempre. Para que continues a deliciar-nos com as tuas ondas de emoção.
Um grande blackiss.

Finding Essex disse...

Porque me apetece http://catacumbas.blogs.sapo.pt/

Anônimo disse...

As tuas viagens são belas como as de poucos... nunca as menosprezes; fizeram de ti quem és! Com amor te digo, até à próxima viagem.

Anônimo disse...

Despertas demasiados sentidos.

Entre a Terra e o Mar, apenas existe tempo,infimo e precioso...

Beijo de gata, viajante.

Red Light Special disse...

Voltei... para desejar que este teu Natal seja iluminado e muito especial, pleno de tons vermelhos e cores quentes, que traduzam amor, felicidade, alegria, saúde e paz.
Beijos natalícios para ti,
Red

Shelyak disse...

Gostei bastante de te ler...
Festas felizes.
:)

Sophia disse...

Óptimas entradas em 2008!!!

AJO disse...

Bem... não tenho mais palavras... adorei este seu blog...