Abre...

Essa noite.
Eu sabia que essa noite ia ser diferente...
Sabia que não ia deitar-me e tentar conciliar o sono, repousando o corpo e a mente.
Sabia que a campainha ia tocar, a qualquer instante.
Sabia que do outro lado do intercomunicador ia ouvir a tua urgência.

"Sou eu. Abre."

E eu ia abrir - a porta, o coração, o corpo sequioso do teu.
Sabia que ias entrar e não ias falar... que enterrarias os teus lábios nos meus, que procurarias o meu pescoço e sorverias cada partícula do meu odor, enquanto procuravas nervosamente o calor dos meus seios com as tuas mão viajantes. Que me encostarias à parede e me farias levitar, como mais ninguém jamais foi capaz de fazer.

Eu sabia que ia abrir-me para ti, escancarar-me inteira, entregar-me sem medo, porque só tu conhecias os meus caminhos e só tu conseguias por eles viajar, penetrar nas sombras, descobrir as luzes, descobrir as passagens secretas.

Eu sabia que essa noite seria assim, louca.
Sabia que contigo ia viver uma turbulenta espiral de emoções da qual jamais quereria sair...
Sabia...

E assim foi.
Essa noite como outras que se seguiram e outras que lhe antecederam.
Noites tão imensas que hoje, anos volvidos, não esqueço e me aquecem os sentidos, como quando a campainha tocava e me dizias...

"Sou eu. Abre(-te)"

...e hoje voltaria a abrir.