Envolveu-a um silêncio ensurdecedor. Entraram três figuras indistintas para aquele palco de madeira rústica, sentaram-se. E começaram a tocar...
As notas musicais começaram a fluir das velhas guitarras, num acto de amor entre cordas e pesados dedos experientes, numa mistura inesperada entre sevilhanas e tango.
Fechou os olhos, inspirou o fumo envolvente... sentiu calor, o corpo molhado, a pulsação acelerada, um impulso para saltar da cadeira para o tablao e dançar... dançar... exorcizar memórias... deixar-se rodar pelos sentimentos...
De súbito um homem acercou-se dela, despertando-a do torpor sensual que a envolvia. Pegou-lhe na mão e nada lhe disse.
E ela, hipnotizada pelo olhar daquele homem forte, robusto, transpirado, de olhos castanhos escuros e tez dourada do sol... seguiu-o e acompanhou-o num ardente tango flamenco, esquecendo-se por momentos de tempo, espaço, identidade... Por momentos sentiu cada centímetro de corpo másculo contra o dela... ...o toque forte mas delicado das suas mãos por todo o corpo... ...o sôfrego olhar dele pousado nas curvas dela, desejando-a como se já lhe soubesse os caminhos da paixão...
Dançaram como amantes... como se conhecessem desde sempre, há muito... amaram-se a dançar, amaram-se com o olhar...
E por momentos ela esqueceu as amarguras que a levaram à beira do rio onde o rapazito a tinha encontrado em prantos, chorando as amarguras de uma vida que queria distante.
Num rodopio ouviu um ataque final às cordas das guitarras, seguido de fortes "Olé!" da parte do público que assistia.
E quando se virou em busca do misterioso homem com quem dançara e partilhara suor, pele, vibração... nem sinal. Apenas se desvanecera no pesado fumo que enevoava a velha taberna.
Lentamente dirigiu-se à sua mesa... e lá encontrou uma rosa encarnada esperando-a com um bilhete:
M'encantas... te quiero. Busca-me aquí...
E ela foi.
Naquela noite ritual encontraram o sol e a lua, a terra e o céu... desfizeram-se as dúvidas, encontraram-se as respostas!
E naquela velha taberna
na noite de S. João...
Ela encontrou a sua sorte.
Paco De Lucia - Ta... |
9 comentários:
Há sortes assim... Óptimo texto viajante.
e há outras sortes....
Gostei viajante.
Um beijo. Obrigada.
Tangos....não há dança mais sensual. Envolvente q.b e neste caso com a vantagem de seres premiada com a rosa da paixão. Parabéns viajante.
Red blackiss ;)
Mais uma aventura, de su suerte, muito bem!
E já agora, se não te importares, vou dar uma vista de olhos por este canto, posso?
De uma forma ou outra, deparamo-nos com momentos mágicos, assim...:)
Beijinho, menina !
Ai a dança... faz milagres... e o tango??? Nem se fala... só quem o dança sabe do que falo... já uma vez no meu blog exprimi como o tago nos pode conduzir para expreriências fantásticas... Belo texto.
Fenomenal este texto!
Simples, intenso, transparente, sensual... quente!
Escrito num ritmo que sinceramente me surpreendeu!!
Parabéns!
(e porque me lembrou: http://br.youtube.com/watch?v=3zD9W9SZj9w)
A história, a música, o movimento, os sons, tudo vem ao encontro de uma acaso cheio de beleza e amor.
A gata ganhou mania de desafios fsssssttt e tu saíste-te bem, gostei da imagem e como m'apaetecia bailar pelas palavras...
Beijo turista :)
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