A minha escrita neste espaço é tão errática, espaçada e confusa como a minha alma.
Tanto que eu pensei neste texto. Tantas vezes foi começado e apagado. Pensado à vírgula na minha mente e esquecido assim que os meus olhos batem no cursor que pisca, pisca... à espera que me decida.
Sou uma mulher dividida. Quase como que uma mulher dia e uma mulher noite.
A mulher dia é sobejamente conhecida de todos: vivaça, alegre, teimosa. Sentimental. Possessiva. Mãe, esposa, filha, irmã, amiga. Trabalhadora. Corpo XL, alta, morena e relativamente bem comigo própria no que respeita às minhas formas.
Amo o meu homem. Quem nos conhece sabe que somos felizes. Sabe que ele move mundos e fundos para me fazer feliz. Amo o seu olhar apaixonado. Amo a sua capacidade de me amar sem me conhecer o lado negro. A mulher noite.
A mulher noite que sou... essa é desconhecida de (quase) todos. Viveria bem com a "minha noite", sossegada num canto do meu ser, se volta e meia não me viesse atormentar. A minha noite é fogo que me queima por dentro. É ela que me impede de ser plenamente feliz porque nunca estou satisfeita com o que tenho. Porque eu sei que sou feliz... amenamente feliz. Mas a minha noite exige fogo. Paixão. Loucura. Vertigem. Aventura.
O meu corpo desconhece o poder destas palavras há muitos anos. Tenho vivido desprovida de loucura e paixão como um caminheiro que atravessa o deserto. O meu homem, que move mundos e fundos para me fazer feliz, não consegue alimentar a minha noite. Não satisfaz a minha necessidade de paixão, de loucura, de aventura. E é isso que me dói e me mata e me divide. Revolta-me contra mim mesma. Mas esta é a dura verdade - aquela que me tenho recusado verbalizar - amo-o sem paixão. Sou uma cabra.
E vou vivendo, empurrando a minha noite para o fundo de mim. Vai-se alimentando das memórias da paixão já vivida e da expectativa de um reencontro proibido e marcado sem hora nem lugar.
Sou uma mulher dividida, viajando entre o dia e a noite. Secretamente.
Sou, no fundo, uma mulher que se envenena de desejo do que já teve. Que se envenena de memórias.
Olho-me ao espelho... e não me reconheço.
4 comentários:
Acho que há um dia e uma noite dentro de cada mulher, e talvez seja essa dualidade que nos faz ao mesmo tempo tão intensas e sempre tão insatisfeitas, por mais que sintamos ter!
Todas passamos as nossas fases, mas, e sendo mais fácil dizer do que fazer, acho proveitoso aproveitar a energia e o lado louco da "noite" para espevitar um pouco o lado "dia".
Muitas vezes aquilo que acho que acontece é que o lado noite é tão sedutor que acabamos por querer transpô-lo para a realidade, exactamente como o sentimos, e esquecemo-nos de que ninguém consegue alimentar-se apenas de loucura...
Acima de qualquer outra coisa, acho que não te deves sentir culpada pela forma como amas, e muito menos pela aventura da qual sentes falta!
Há sempre memórias que nos envolvem e nos fazem questionar o que temos.
Nós às vezes tentamos simplificar tudo, mas...se nós somos tudo menos simples, como é que os nossos sentimentos haviam de o ser?
Desculpa o testamento, já sabes que quando me entusiasmo, as teclas é que pagam! ;)
Beijo grande
Eu aprecio, quero e agradeço o testamento... eu preciso muito de falar disto e que me falem disto! :)
Seria incapaz de ser feliz se vivesse apenas de paixão e loucura - está cientificamente comprovado por mim mesma e foi por isso que decidi "assentar", por saber que só aquele amor, morno, terno e inocente me faria feliz.
Pegando nas tuas palavras: «acho proveitoso aproveitar a energia e o lado louco da "noite" para espevitar um pouco o lado "dia"» Been there... done that. O problema reside na inexperiência do meu "interlocutor". Na sua ingenuidade... que adoro mas que me exaspera... No simplismo que imprime à intimidade. Mas eu sei - eu SEI!!! - que a culpa não é dele... é minha!
Pega no teu homem , no teu "interlocutor" e mostra-lhe sem receios esse teu lado da noite.
Só depende de ti neste 1º passo leva-lo para esse teu mundo.
Espero que se encontrem os 2 , para depois se perderem vezes sem fim :)
Beijo meu
Um tesão, este texto...
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