Os ritmos eram quentes e os corpos sentiam-se impelidos pelo balanço a dançar, como que encantados, hipnotizados... as mulheres serpenteavam-se, já inebriadas pela batucada e pelo álcool, para regozijo dos masculinos olhares. A multidão ia acotovelando-se, fora de controlo, pouco importava o suor que caía pela pele abaixo, pouco importava o contacto físico com estranhos... No transe louco que se vivia naquela noite de Carnaval, tudo valia, nada importava a não ser sentir, dar, trocar prazer.
E numa noite em que já só se respirava luxúria, os seus olhares cruzaram-se.
Ela usava uma máscara veneziana e um simples vestido preto coleante de alças finas, que realçava a pele morena brilhante, assim como as curvas e contra curvas do seu roliço corpo. Ele, que já se preparava para abandonar a festa, deixou-se ficar, estático, quase engolido na frenética multidão, apenas a olhá-la... como dançava, dengosa, louca, livre... desejou-a naquele instante como a mais ninguém, como nunca. Ela sentiu-lhe ol olhar pousado nos olhos, sentiu-o viajar pelas suas sinuosidades, trepou-lhe os seios, desceu-lhe o ventre,trilhou-lhe os glúteos, palmilhou-lhe as longas e bem torneadas pernas e tornou a subir e ela, como nunca, dançou para ele, para aquele desconhecido que lhe acendeu um fogo desconhecido no seu íntimo mais profundo, mais obscuro...
Um íntimo que desconhecia, como aquele homem que a olhava e que desejava ter com urgência.
Foi com urgência que ele a segurou pela mão e a levou por entre o amontoado humano para o quarto de motel mais próximo. Foi com urgência que lhe arrancou o singelo vestido preto e provou o salgado do seu suor, bebendo cada gota como precioso néctar. Foi com urgência que a atirou contra a velha mesa que jazia ao centro do quarto e se enterrou nos seus seios e depois na fonte do seu prazer e bebeu novo néctar, desta feita doce e quente, interminável como os gemidos que ela soltava...
Com urgência ela deu meia volta e provou-o também, vigorosa mas também doce... E com urgência amaram-se no chão do quarto, uma e outra vez, experimentando êxtases novos, brutos, quentes, envolvidos na batucada que lá fora continuava...
Na manhã seguinte ela acordou ainda com a máscara posta. Não a havia tirado. E isso também não importava. Ele já lá não estava. Apenas deixou para trás um guardanapo com um número de telemóvel escrito e o nome.
Já sem urgência rasgou-o. Sem urgência demorou-se num interminável banho.
E sem urgência bateu com a porta do quarto de motel onde deixou a máscara...
...e a mulher que fora aquela noite.
...e a mulher que fora aquela noite.
13 comentários:
Que frenesim carnavalesco!
Beijinho
Tanto mistério, sensualidade... excitante, cada palavra... fica-se a pensar em que gostaríamos de ter sido protagonistas...
Belo carnaval assim...:)
Continuação de belas divagações!
Kiss
Boas viagens por aqui se fazem ;)
Beijos!!
Sempre é diferente e melhor que o batuque non-stop e alucinante do Rio ......
Interessante carnaval. A máscara da sensualidade vestiu-se e despiu-se várias vezes para se tornar uma pele.
Blackiss com sentido ;)
Numa noite de Carnaval vestiu-se a máscara dos Sentidos e eles foram deixados soltos pelo ar. E depois? Quando a máscara caiu, que ficou...?
as vantagens de um carnaval:)
noivo: é verdade... já vi que também gozaste bem o teu!
alma nova: fiquei eu... a viajante. Que não deixa de ser uma mulher banal, com máscara de viajante.
black puss: uma pele... sim, é isso. Um beijo viajante muito sentido!
redjan: quem sabe... ainda não estive lá para ouvir, mas um dia gostaria de sentir a vibração in loco.
nikita: obrigada, volta sempre para viajar comigo ;)
shelyak: obrigada, assim deixas-me sem jeito. Talvez um dia consigamos ser protagonistas numa história assim...
tugafixe: frenesim... é isso mesmo!
O Carnaval tem estas coisas boas... aliás, penso que deves saber as origens da festa carnavalesca, e o que acontecia dentro dos famosos Carrum Navalus
Louca e urgente noite de carnaval!
Gostei de te ler.
O sucesso é sempre um bom casting, no caso, a escolha dos protagonistas.
E nem todos os "actores" que desejamos estão disponíveis!!! :)
Beijos
Que posso dizer... aqui se sente o poder de uma máscara... foi sem dúvida uma leitura que leva a colocar a mascára. Às vezes faz falta a máscara... às vezes faz falta deixa-la cair.
Belo texto
Pano de um palco...personagem de uma peça...máscara de utópica insónia...
bela viagem...
Os harmónicos que vibram a partir deste texto tão sensual, são para se ouvir como um eco, sem urgência...
beijinho
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