quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
Quando o meu amor era um jogador da bola
Não consigo contabilizar as horas que perdi a assistir jogos da bola na minha adolescência. Gostava de o fazer: enquanto punha em dia as cusquices com as amigas, entre risinhos e um cigarrito às escondidas, ia mirando o físico dos colegas de turma, que corriam desenfreados atrás de uma bola, fixos no objectivo de marcar golo entre as duas mochilas que faziam de baliza.
O meu primeiro namorado jogava à bola. Eu tinha 14 anos e, apaixonada por outro galifão que não me dava troco, pedi namoro ao jogador da bola para fazer ciúmes. Sim, disse ele, mas só fora da escola. Afinal de contas ele não era apaixonado por mim, mas ter namorada era capaz de ser porreiro.
Foi assim que comecei a passar ainda mais tempo em campos da bola improvisados. Em cada passe, fui aprendendo a gostar daquela criatura suada e cravada de borbulhas, que nada tinha a ver com o meu ideal de rapaz alto e moreno - lá alto era ele, mas de moreno nada tinha. Pele muito branca, cabelo claro e mais oleoso do que desejaria, mas com os olhos mais azuis que o céu em tardes de Agosto. Olhar fundo de céu, lábios cheios de promessa.
Devagar e a medo, o namorico foi-se tornando sério. No fim dos jogos, ficávamos juntos até escurecer. Beijávamo-nos intensamente. Aprendemos a fazê-lo um com o outro. Os beijos e os olhares foram-se tornando cada vez mais profundos e detalhados. As línguas rapidamente aprenderam os caminhos das nossas bocas e aprendemos a linguagem silenciosa do olhar.
Foi num desses finais de tarde que senti, pela primeira vez, desejo. Um calor desconhecido e inexplicável que nascia do fundo de mim apenas na expectativa de um beijo. A roupa interior molhada, pela primeira vez. E um abraço mais apertado que me fez a mais espantosa revelação até àquela data: ele também me desejava. Senti-o, duríssimo, encostado à minha perna... Que loucura.
Não foi com ele que perdi a virgindade. Tudo terminou antes que nos sentíssemos preparados para o fazer. Mas a este jogador da bola agradeço o descobrir da expectativa, do querer, do desejo... Foi também graças a ele que sofri o meu primeiro grande desgosto de amor - mas isso já foi há tantas eras que hoje, em vez de me fazer chorar, me faz sorrir...
(escrito ao som de "It must have been love", Roxette)
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6 comentários:
Oh...o tempo da descoberta e das primeiras experiências! Deixa-nos uma nostalgia boa...
É impossível esquecer a pessoa com quem vivemos pela primeira vez, certas coisas que até essa data apenas imaginávamos como seriam.
É bom recordar :)
Beijo grande, enorme!
Nikita
Outro beijo enorme para ti.
(nota-se muito que estou a batalhar para que me saia discurso coerente?)
Já te leio há muito...
[aliás...um dia destes fui reler textos teus e encontrei lá comentários meus...já tão antigos. Achei giro ;)]
E uma das coisas que sempre notei foi a clareza com que se percebe o que te vai na alma e queres partilhar.
Só que...os sentimentos de simples, nada têm, e por isso, é normal que muitas vezes as palavras que utilizamos para os expressarmos nos pareçam atabalhoadas. Não são.
É essa complexidade que nos faz perder horas...dias..anos da nossa vida atrás do que afinal significam coisas como tesão, paixão, amor...
Continua, porque voltaste em grande.
Digo-te eu.
Beijo
<3
Vou continuar, sim! Ainda tenho tanto para dizer... e embora estas "viagens" não me satisfaçam na forma, têm-me satisfeito muito no sentir e no reencontrar de um "eu" que andava perdido há muito...
Um beijo viajante... (e obrigada!)
PS - Já há mais uma viagem para ler :)
Nós devemos ser da mesma idade. Essa música é banda sonora com o meu primeiro namorado. Que curiosamente não suportava futebol. E que, por acaso do destino (ou não) é hoje o meu marido. E, futebol à parte e a pele pálida, foi isso... foi mesmo isso. Muito, muito igual. :)
Red Light, esta foi a canção de "curtir a fossa porque ele me deixou" ;) Sim, devemos ser da mesma idade!
O meu segundo namorado também se inseria na categoria dos que não gostam particularmente de futebol. Esse foi mais a sério, esse foi o homem com quem julgava que ia casar, constituir família... toda uma outra história para contar :)
Que bom saber que te identificas com esta memória... que é tão doce!
Beijo viajante!
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